019 | Um apanhado de música para dar tchau a junho de 2025
Vida, morte, música e shows, muuuuuuuuuuitos shows
Olá! Que bom que você está aqui!
Mais um mês chegando ao fim e mais um post no batida crônica com aquele resumaço e dessa vez falaremos das coisas interessantes que rolaram em junho. E enquanto eu escrevo isso aqui, me dou conta que estamos chegando oficialmente na metade do ano. Isso te anima ou isso te deprime? Longe de mim jogar aquelas perguntas retóricas com intenção de provocar sentimentos dúbios, mas foi maluco olhar para o calendário e pensar que foi ontem que estávamos em março.
Não consigo deixar de pensar que nestes últimos seis meses tivemos tantos lançamentos musicais, festivais e shows anunciados…muito aconteceu. Vocês tem a impressão de que cada vez o tempo é mais plástico, mais maleável, mais rápido? Toda semana um assunto diferente, uma pauta diferente, um absurdo diferente, uma novidade diferente. Em alguma medida eu acredito que isso é reflexo de ainda estar nas redes sociais e como constantemente empurram novas coisas para consumirmos e prestarmos atenção. Um pensamento que vem acompanhado disso tudo é de que ainda assim parece que deixei muita coisa passar, como se seguir música da forma como faço e estar por dentro ainda não é suficiente. Parece que eu sempre estou de fora de algo importante. Um FOMOzinho que ainda faz cosquinha lá no interior do cérebro.
Eu acabo rebatendo esse pensamento com a lembrança de que ouvir música não é uma competição, assim como nada nessa vida é (ou deveria) ser. Tampouco é performance. As vezes eu consigo, as vezes nem tanto assim. Acontece. Uma extensão natrual desse movimento é que essa newsletter, da forma como acontece e se propõe a ser, também não abarca tudo, não cobre tudo. É humanamente impossível. E a imperfeição de não conseguir dar conta de tudo é o charme. Curar, selecionar, ouvir o que eu quero, descobrir, me encantar, sentir, escrever, escrever, escrever. É o que me movimenta a estar aqui e espero que seja essa incongruência toda que de alguma forma te faz estar aqui lendo isso tudo.
Te convido para cada vez mais estar tranquilo com o fato de que nunca saberemos de tudo, nunca conseguiremos ouvir tudo nem teremos opinião de tudo. Enfrentamos inimigos terríveis nesse processo, onde o capitalismo e redes sociais são os principais. Na minha experiência pessoal investir meu tempo e energia em escolher cada vez melhor o que eu quero ver, fazer e ouvir sem pressão ou ruídos externos guiando a minha percepção tem valido a pena. Curadoria constante da vida real. Não é fácil e talvez nunca será! Mas os resultados valem a pena. Te convido a fazer o mesmo.
Muito obrigado por ser tão bacana e por estar aqui. Vamos dar tchau para junho?
Aleatoriedades aleatórias
Começo falando sobre uma experiência mágica que tive no mês de junho e, a partir dela, traço um paralelo com outros dois eventos que rolaram ao longo do mês.
No dia 7 eu e outras dezenas de milhares de pessoas estiveram no estádio Mané Garrincha, aqui em Brasília, para prestigiar a vida e obra de Gilberto Gil por meio de um show da turnê “Tempo Rei”, o seu adeus às grandes turnês e aos grandes palcos. Turnê essa que segue firme com shows até o fim do ano; caso você ainda não tenha ido em um (ou queira reviver a experiência) pode conferir as datas restantes lá no site da Eventim. Preciso dizer que é uma experiência mágica, então mesmo se você não curta tanto eu te sugiro fortemente que vá mesmo assim. A energia é palpável e você vai terminando a noite percebendo que conhecia muito mas músicas de Gil do imaginava. Ele parece não ser um mero mortal, mas sim um orixá.
Eu, particularmente, não perco a oportunidade de ver um show de um ser mitólogico da música brasileira quando posso. Sou sortudo em poder dizer que já vi muitos: Caetano Veloso + Maria Bethânia, Gal Costa, Milton Nascimento, João Bosco, Alceu Valença, Ney Matogrosso…a lista é grande (só me falta o danado do Jorge Ben Jor sair do Copacabana Palace para eu ver todo mundo que queria, mas aí talvez seja pedir muito). A possibilidade de ver um artista que ressoa na vida de gerações de pessoas e fãs é uma dádiva. Ainda mais considerando que Gil já está no auge dos seus 83 anos e ainda que cheio de energia, cantando, dançando e trocando ideia com o público tal qual um vô troca ideia com um neto, você sabe que ele está mais perto do fim da vida do que do começo. Há um pequeno senso de urgência em vê-lo. Quantas outras oportunidades teremos?
Essa pergunta veio forte esse mês porque duas lendas da música global nos deixaram. Primeiro foi Sly Stone, lider do Sly and the Family Stone, banda seminal do soul e do funk norte-americano; em seguida foi Brian Wilson, mente por trás do The Beach Boys, um dos grupos de rock mais influentes e que inspirou mais da metade das bandas e artistas que eu e você gostamos. Tudo bem que eles já haviam passado dos 80 anos de idade e a saúde de ambos já não estava em seu ápice, mas não dá para não se chocar quando você vê medalhões indo embora e sabendo que, embora “Pet Sounds” e “There’s a Riot Goin’ On” mudaram vidas e ainda mudarão muitas outras, eles não estarão mais entre nós fisicamente.
Sei que essa galera com anos e anos de carreira impacta a vida de muitas pessoas, famílias, países até, então é inevitável pensar que muitos desses titãs da música, quem nós chamamos de herois e heroínas, podem não estar mais conosco em um piscar de olhos. Não tenho aqui a intenção de te deprimir ou assustar - já pensou que a morte é a única certeza que temos? A finitude é o que dá sentido no viver em suas diferentes manifestações. Na verdade quero é te provocar: se estiver no seu alcance, vá ver as bandas e artistas que você admira e que fazem sentido na sua vida. Principalmente se eles já passaram dos 60.
Os próximos temas tem a ver com festivais de música que rolaram ao redor do mundo, onde cada um trouxe acontecimentos interessantes o suficiente para serem comentados. Nos meses de junho e julho acontecem inúmeros festivais no verão europeu: Primavera Sound, NOS Alive, Rock Werchter, Sziget, Open’er, Roskilde, Mad Cool, Pinkpop, Montreux Jazz, Rock en Seine. A lista vai e vai. Mas talvez nenhum consiga chegar aos pés em renome e “barulho” quanto o Glastonbury. Realizado na Inglaterra pela primeira vez em 19 de setembro de 1970 (pelo módico preço de uma libra esterlina, com leite fresco incluso), o evento combina o mundo da música com outras artes e ativismo ambiental. Já trouxe nomes gigantescos, de The Kinks a David Bowie, Paul McCartney a Stevie Wonder, Bjork a Amy Winehouse, Bruce Springsteen a Paul Simon. Deu pra sacar o renome e o impacto no cenário internacional, né?
A edição deste ano reforça a força do Glastonbury no cenário dos grandes festivais, principalmente no que se refere à curadoria das atrações musicais. Tivemos The 1975, Neil Young com sua nova banda The Chrome Hearts e Olivia Rodrigo de headliners; nos nomes menores (mas não menos impactantes) tivemos Charli XCX, Doechii, Alanis Morisette, Raye, The Prodigy, Nile Rodgers & CHIC, The Libertines, girl in red, BADBADNOTGOOD, Denzel Curry, English Teacher, Lola Young, PinkPantheress, Father John Misty, Amyl and the Sniffers…e por aí vai. Mas quero dar destaque aqui a dois nomes que você provavelmente já viu em algum lugar e tem feito muito barulho recentemente: KNEECAP e Bob Vylan.

KNEECAP é um grupo de hip hop irlandês que ascendeu de forma meteórica no cenário da música internacional, possivelmente os representantes do que há de mais disruptivo nesse sentido. Liam Óg Ó hAnnaidh, Naoise Ó Cairealláin e JJ Ó Dochartaigh, que atendem pelos nomes de palco Mo Chara, Móglaí Bap e DJ Próvaí respectivamente, tem feito muito barulho ao escancarar as contradições do Reino Unido e o processo histórico de marginalização da cultura e da língua irlandesa. Identidade, sátira e sarcasmo são armas que os tornam um coquetel molotov musical, na melhor figura de linguagem possível. Eles são explosivos, intensos e ativistas - pela sua própria existência como irlandeses mas também por serem vocais contra outras violências e guerras ao redor do mundo.
Antes mesmo de seu show, o primeiro ministro britânico Keir Starmer solicitou a retirada da apresentação do KNEECAP do Glastonbury; os irlandeses tem sido muito vocais quanto ao extermínio sofrido pelos palestinos, usando suas redes sociais para conscientizar o seu público e esclarecer o que realmente está acontecendo. E, na visão do premiê, a propaganda pro-palestina não deveria ser exibida em rede nacional. A BBC, a parceira de transmissão do festival, acabou decidindo retirar o show da transmissão ao vivo e incluindo-o como conteúdo disponível após o festival. Isso não impediu, naturalmente, que o KNEECAP direcionasse suas críticas ao governo britânico e israelense. O resultado você confere ouvindo o show logo ali acima. Te garanto: é lindo.
Nessa mudança na trnasmissão, a BBC decidiu disponibilizar o show da dupla Bob Vylan ao vivo, que mistura elementos do rap e do punk, que tocou em um outro local do Glastonbury e fez críticas ainda mais contundentes ao governo israelense e em apoio ao povo palestino ao vivo. O resultado? Ao mesmo tempo em que o governo norte-americano decidiu revogar os vistos dos membros do grupo, alegando que pessoas que glorificam a violência não devem entrar nos Estados Unidos (risos), o trabalho musical mais recente, “Humble As the Sun”, voltou a ser divulgado e consumido de tamanha forma que voltou às paradas de sucesso do Reino Unido.
Minha sugestão? Ouçam KNEECAP e Bob Vylan o quanto puderem e acompanhem os trabalhos de ambos grupos nas redes sociais. Mais do que ativistas e musicos, o mundo precisa de pessoas genuínas e corajosas.
Ah, e teve esse momento fofíssimo da cantora Gracie Adams se emocionar sabendo que o Paul McCartney estava assistindo o seu show nos bastidores. Muito compreensível, eu também ficaria.
Agora atravessando o Atlântico e indo para o estado do Tennessee nos Estados Unidos, tivemos também o cancelamento de um dos festivais de música alternativa mais tradicionais do país, o Bonnaroo. O motivo? As chuvas torrenciais que assolaram a região. O volume de água foi tamanho que as pessoas que acampam não conseguiriam nem sair da região sem resgate, então pensando no bem estar de todos o festival se viu forçado a cancelar. Se você pensa que isso é um caso isolado, lembre-se de todas as edições recentes do Lollapalooza Brasil onde as chuvas atrapalharam e atrasaram alguns shows por risco de raios na plateia. Não se surpreenda se daqui a algum tempo todos os shows e grandes festivais de música começarem a promover seguros por conta de incidentes provocados pelas condições extremas do clima. É galera, o aquecimento global tá mudando a vida de todo mundo.
Enquanto você recebe esse email na sua caixa de entrada já é julho, o que significa que os primeiros shows da reunião do Oasis já terão acontecido. Por estar falando de junho vou deixar meus comentários para a próxima edição do batida crônica, mas é evidente que estamos diante de um dos maiores acontecimentos da cultura pop recente. O que é possível falar neste momento é que a Adidas lançou uma coleção exclusiva de peças para a banda em comemoração a esse feito gigantesco - e que tem tudo a ver considerando que a banda tem uma relação de longa data com o futebol (lembra de quando o Liam Gallagher falou que reuniria o Oasis se o Manchester City ganhasse uma Champions League?). Uma manifestação muito recente de como a moda e a música meio que caminham lado a lado. Para babar e eventualmente comprar uma caso esteja no seu alcance, clique aqui.
E termino essa seção mencionando um acontecimento no mínimo interessante nesse contexto de newsletters: o
agora está no Substack! Desde que entraram eles tem publicado fotos e acontecimentos marcantes destes trinta anos de banda; falarei mais deles quando formos dar tchau pra julho. O massa aqui é perceber como uma banda grande fincou uma bandeira aqui e, aparentemente, veio pra ficar. É aquela coisa: quanto mais bandas aqui, mais público e mais gente girando a rodinha que faz esse mundo se tornar mais inclusivo e mais plural. Se você é fã da banda, recomendo dar uma passada lá no Foo Fighters Field Notes.Shows, festivais e turnês
Ok, talvez temos o ganhador do concurso “line-up mais massivo de festivais de música em 2025”. Se é que essa competição existe. Enfim, o Corona Capital realizado na Cidade do México veio com tudo esse ano: grandes nomes roqueiros na figura do Foo Fighters, Garbage, Queens of the Stone Age, Alabama Shakes, Deftones, Linkin Park e Weezer; pop na figura de Aurora, MARINA, Chappell Roan, Lola Young, PinkPantheress e Nilüfer Yanya; e nomes do indie em diferentes manifestações, como Vampire Weekend, Franz Ferdinand, Of Monsters and Men, Cut Copy, TV on the Radio, Lucy Dacus, Mogwai, Half-Alive, Peach Pit e mais uma galera. Impressionante o que eles conseguiram fazer aqui. Os ingressos estão disponíveis no site do evento, caso você esteja pela região em novembro.
Ausentes de shows no Brasil desde 2008 (!), o My Chemical Romance vai voltar para o país e para outros vizinhos da América Latina em fevereiro de 2026. E vai ser em grande estilo: somente shows em estádios e com show de abertura do The Hives, que por si só já paga o ingresso. Fãs de pop punk, emo e rock alternativo já tem o que promete ser o show do ano de 2026 (e ainda faltam bons meses, o que é muito louco de pensar). A primeira data no dia 05 de fevereiro esgotou em instantes e ainda há ingressos disponíveis no site da Eventim para o show extra no dia seguinte, 06 de fevereiro.
Thundercat anunciou quatro shows no Brasil em sua primeira turnê própria no país desde 2018. Dessa vez o rolê vai ser mais extenso, shows em quatro capitais logo agora em agosto. O cara é um dos baixistas mais virtuosos e interessantes de se acompanhar por aí e tem uma relação de carinho com a música brasileira; o próprio cartaz é uma referência gigantesca à Tropicália. Os ingressos para os shows de São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre já estão disponíveis clicando nos links dedicados.
O festival I Wanna Be reduziu seu formato comparado à sua primeira e gigantesca edição em cinco capitais brasileiras no ano passado, mas isso não quer dizer que a desse ano não prometa mesmo. Mas sabe como é: shows em estádio, ainda que impressionantes, não se comparam com shows em arenas ou outros espaços menores. Pra ter um contato mais íntimo com os fãs, o Fall Out Boy anunciou um show a parte no Rio de Janeiro bem no finalzinho de agosto com abertura do Yellowcard e do Story Of The Year. Se te interessar, os ingressos estão disponíveis no site da Eventim.
Ainda surfando na alta com o seu mais recente trabalho de estúdio, “GNX”, e com turnês em estádios pela América do Norte, Kendrick Lamar trará ao Brasil seu show para o Brasil no mês de setembro em apresentação única. A grande diferença é que dessa vez ele não virá com SZA, com quem dividiu palco nos últimos meses; mas o show contará com a abertura dos maravilhosos CA7RIEL & Paco Amoroso, que também estão muito em alta. Perdemos de um lado, ganhamos de outro - acho que não dá pra se ter tudo, né? Mas vai ser igualmente incrível. Ingressos ainda disponíveis no site da Ticketmaster.
Imagine Dragons também vão voltar ao Brasil em shows em estádios no final de outubro, e parecem ter gostado da coisa; vieram em 2023 em shows solo e ano passado vieram como parte das atrações do Rock in Rio. Particularmente eles não fazem muito meu gosto, mas entendo o apelo; ainda mais pelo vocalista Dan Reynolds ser uma pessoa genuinamente legal. Interessante que dessa vez a turnê passa por Belo Horizonte e Brasília, duas cidades que nem sempre estão na rota dos grandes shows. Ingressos já estão rolando no site da Ticketmaster.
Guns n’ Roses voltará ao Brasil para quatro shows, como fazem com frequência para arrebatar um bom dinheiro. Dessa vez Cuiabá está na rota e isso me deixou intrigado, porque deve ser o primeiro grande show de rock que passa pela capital matogrossense. A título de curiosidade, o Brasil é o quarto pais que mais recebeu shows da banda em toda a sua história; são trinta e nove shows em quatorze cidades diferentes (peguei essa informação no sempre brilhante setlist.fm). Então se não conseguiu vê-los ao vivo ainda, parece ser uma ótima oportunidade. Os ingressos para os shows de São Paulo e Brasília podem ser vistos no link ali atrás, enquanto os de Curitiba e Cuiabá estão neste outro.
Para divulgar seu novo álbum “Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?”, Rubel vai fazer uma turnê nacional no formato voz e violão. Eu acho muito incrível quando um artista decide fazer o esforço de visitar todo um país continental como Brasil, que abraça a sua música há muito tempo. Vocês podem ver abaixo que a lista de shows é extensa nos próximos meses, então caso te interesse vá ao site da turnê para ver o show mais próximo da sua cidade (ou do seu país, já que ele também vai visitar a Europa e a Ásia também).
Uma das bandas mais seminais do rock alternativo norte americano dos anos 1990, o Weezer vai fazer uma visita na América Latina em novembro e seremos agraciados com um show em São Paulo. O interessante é que parece (eu disse parece) que eles vão fazer o show de comemoração ao álbum azul (ou Blue Album, como preferir) tocando-o na íntegra, além de tocar outras músicas da carreira. Muito massa. Ainda não temos muitas informações de locais nem de ingressos, mas já dá pra marcar na sua agenda e garantir um rolê legal no dia de Finados.
Gosto de valorizar a cena da minha cidade sempre que posso, então fico muito feliz em dizer que o Cerrado Jazz Festival já tem datas marcadas e será logo no comecinho de agosto. O festival é um dos que preenchem o calendário dos grandes eventos de Brasília no segundo semestre, e prometem coisas bem interessantes para o seu décimo ano de vida (enquanto escrevo este texto eles já confirmaram um show do Chico César com participação da cantora Fabiana Cozza, então dá pra sacar o alto nível!). Sugiro checar a página do evento para acompanhar as novidades e tenham certeza que falo deles ao final de julho.
Álbuns descobertos
Luedji Luna - Antes Que A Terra Acabe
A vírgula estava ali o tempo todo. Mas acredito que você, assim como eu, não esperava que logo após de lançar “Um Mar Para Cada Um,” seriamos agraciado com outro trabalho de Luedji Luna que se conecta profundamente com seu tão recém-lançado antecessor, tal qual duas metades de um projeto sonoro único. “Antes Que A Terra Acabe” segue a linha jazzística carregada de instrumentações belíssimas e densas, conduzidas pela voz potente de Luedji que canta sobre amar e sentir com canetadas fortes, bem direta ao ponto. É um registro que exige atenção e cuidado para perceber os nuances e todos os elementos que compõem cada faixa, mas de cara ele já te fisga e, uma vez dentro, é bem difícil sair da experiência que a cantora nos proporciona. Se eu tivesse de resumir em uma palavra: rico. Ótimo para tomar um drink cítrico refrescante enquanto dança coladinho com aquela pessoa que você ama.
FBC - ASSALTOS E BATIDAS
Depois de explorar todos os espaços siderais possíveis com o maravilhoso “O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA”, FBC nos traz em seu mais novo trabalho um sentido de urgência que nossos tempos atuais tanto nos exigem diante das injustiças, as correrias e as contradições. O som aqui é bem voltado para o boom-bap tão característico do hip hip dos anos 80 e anos 90 e as rimas são fortes, diretas e que emanam um profundo sentimento de transformação da realidade urbana. Música como instrumento de revolução. “ASSALTOS E BATIDAS” soa como um soco bem dado bem na ponta do queixo. É curtinho, coisa de menos de meia hora de duração, e conciso. Trilha sonora muito indicada pra quando você quer canalizar a sua raiva para transformar a sua realidade. Lembre-se: a sua raiva é uma dádiva.
Alberto Continentino - Cabeça a Mil e o Corpo Lento
O nome de Alberto Continentino esteve navegando de forma constante mas sutil nos últimos anos da música brasileira. Se você ler as fichas técnicas e encartes de trabalhos recentes de artistas como Dora Morelenbaum, Ana Frango Elétrico e Moreno Veloso, por exemplo, vai ver o nome dele ali carimbado. Ele se dedica a vários projetos mas também confere seu nome como protagonista de seus próprios trabalhos. “Cabeça a Mil e o Corpo Lento” é um coquetel de MPB, soul, funk e jazz ali dos anos 70 e 80, harmonias deliciosas, arranjos notáveis e elementos percussivos e de sopro que vem e vão constantemente, cuidadosamente aplicados de forma meticulosa. É um álbum que carece de atenção, de ouvir uma vez e revisitá-lo; e que a partir disso te recompensa com um álbum rico e interessantíssimo. Digno de ser ouvido com bons fones de ouvido na varanda de sua casa, de olhos fechados, enquanto aprecia um bom café recém feito.
Don L - Caro Vapor II: Qual a forma de pagamento?
Vez ou outra surge um trabalho que, para além de ser apenas música, é um exercício de crônica da contemporaneidade. Continuação direta de “Caro Vapor: Vida e Veneno de Don L”, lá de 2013, “CARO Vapor II - qual a forma de pagamento?”, novíssimo e muito aguardado álbum de Don L, o cementa como um artista de mão cheia. Para além da sua rima rica e de seu flow característico, vemos aqui um escritor que discorre sobre riqueza, amor, sexo, seu lugar no mundo (em especial no sul global) e sobre viver ao invés de sobreviver num mundo capitalista que nos esgota até a última gota. Há um cuidado perceptível em toda a paleta sonora que é entregue, um estudo de referências das mais diversas - jazz, MPB, samba, funk brasileiro - que torna o trabalho muito orgânico, vivo e brasileiro. Ainda que talvez seja um pouco mais longo do que deveria aos meus ouvidos, nada tira o brilho e o mérito de “CARO Vapor II” como um retrato bem fiel do Brasil que vivemos e que iremos viver com o desenrolar da vida que nos aguarda. Muito bom. Trilha sonora muito indicada para dar a cara a tapa, fazer seu corre, fazer o seu e pelos outros.
Lorde - Virgin
“Virgin” é um exercício de reencontro de uma artista com as suas essências e referências de forma genuina e a partir disso fazer música que representa a sua totalidade até aqui. Não sou parte do grupo que odeia o seu trabalho anterior (o pandêmico e ensolarado-até demais “Solar Power”, de 2021), mas é evidente que a Lorde que eu amo é a que veio do “Pure Heroine” e do “Melodrama”. Vê-la voltando a um eletro-pop abrasivo, honesto, vulnerável e incrivelmente bem produzido é (re)encontrar aquela amiga que sumiu das redes sociais, aquela que você só sabe dela de vez em quando quando ela dá um breve sinal de vida pra dizer que está viva, e ela volta mais cheia de si do que nunca. Digno de ser ouvido bebendo um drink bem ácido na balada, daqueles que travam o fim da boca, mas que te parecem te energizar pra quando o DJ tocar AQUELA você vai viver como se fosse o último dia de sua vida.
Gelli Haha - Switcheroo
As vezes um álbum não é só a música em si, mas todos os outros elementos que o acompanham. É impossível não julgar um livro pela capa, assim como é impossível não julgar uma capa de álbum e não estabelecer um conceito na sua cabeça diante do que você vê. Quando eu me deparei com “Switcheroo” da Gelli Haha, eu pensei que deveria ser um álbum estranho, mas divertido ao mesmo tempo. Se você teve a mesma impressão e quiser experimentar um pop eletrônico vibrante, te sugiro o seguinte: abra o álbum no seu streaming preferido ou por onde você costuma acompanhar música, abra o site oficial da artista e se debruce no que ela tem a falar sobre a sua música. “Switcheroo” é um manifesto sobre fazer música porque é divertido, porque te transporta para um universo mágico (o “Gelliverso”, segundo a artista) de infinitas e divertidas possibilidades. Um álbum perfeito para tomar um negocinho e brincar de massinha de modelar enquanto sente a textura e é transportado para lugares inesperados. Quem sabe até ao Gelliverso.
Pulp - More
O britpop nunca esteve tão em alta. Quando nós falamos desse movimento que caracteriza uma parte importante da música britânica recente, normalmente nos lembramos do Oasis ou do Blur. Quem sabe um The Verve ou The Stone Roses. E há quem vai gritar lá do fundo da sala “ah, mas tem o Pulp!”; e essa pessoa deve estar muito feliz agora. Também, pudera: este é o primeiro trabalho com músicas inéditas desde “We Love Life” lá de 2001! O que você estava fazendo em 2001? Eu não faço ideia. Nesse meio tempo Jarvis Cocker se envolveu em projetos paralelos, terminou a banda, reuniu a banda e com tantas idas e vindas lançou “More”, que soa como se o Pulp nunca tivesse tido essa pausa toda. Ensolarado, vivo, cheio de camadas e de instrumentação rica com o vozeirão de Jarvis conduzindo tudo. Brilhante. Perfeito para se ouvir em uma caminhada ensolarada no parque, porque ele meio que te dá vontade de VIVER.
Turnstile - NEVER ENOUGH
Sinto em lhe dizer: o Turnstile não é mais uma banda de hardcore. Se você embarcou no trem dos milhares de fãs que, assim como eu, começaram a acompanhá-los à época do “GLOW ON”, álbum lançado em 2021, talvez você tenha se encantado com a mistura das guitarras pesadas e baterias frenéticas com os elementos de indie rock e dream pop, tornando-os irresistíveis e frescos no nicho sonoro do hardcore. O muito antecipado “NEVER ENOUGH” mantém a fórmula do seu antecessor - temos sons introspectivos, vulneráveis e emocionantes mas ainda temos fúria encapsulada em breves minutos que são perfeitas para fazer aquele mergulho do palco que só um show de rock genuíno pode proporcionar. Há espaço para os puristas do gênero, há espaço para experiências sonoras diversas. Vemos aqui o trabalho que talvez catapulte a banda para o espaço de headliner de festival ainda que mantenham-se fieis à comunidade underground de onde vieram lá atrás. Reescrevo o que veio ali em cima: o Turnstile não é só uma banda de hardcore. São muito mais que isso. Ainda bem! Trilha sonora indicada para você trocar energia em um mosh com desconhecidos.
Little Simz - Lotus
Little Simz é um dos nomes mais interessantes do rap britânico, uma artista que tem chamado a atenção a cada trabalho. Desde que eu a descobri lááá em 2019 com seu “GREY Area”, cada novo álbum ou EP que veio depois recebe adjetivos como “revolucionário” ou coisa do tipo. Naturalmente a pressão cresce e as expectativas também. “Lotus” é a versão final de quatro projetos anteriores descartados - parte por duvidar de sua capacidade como compositora e artista, parte pelo processo conduzido contra seu antigo produtor, um amigo próximo. Ela se reinventou e entregou um trabalho no qual cementa sua posição como uma rapper de mão cheia. As faixas trafegam por influências que vão do rock e ao jazz, todas conduzidas pelo seu flow extraordinário. Pode soar hiperbólico, mas é o que acontece se ouve uma artista que é jovem e tem tanto para entregar. Curioso? Veja essa performance com uma orquestra (!) e vai entender melhor do que estou falando. Trilha sonora para se estimular criatividade, entender seu próximo passo e para onde vai navegar.
E dou aqui meu agradecimento por você chegar ao fim de mais uma edição no batida crônica. Seja você um inscrito há tempos ou alguém que caiu de paraquedas aqui, me alegra muito que você dedicou um tempinho para ler o que escrevi. Curtiu as indicações musicais? Algo ficou de fora? Comente ali abaixo ou me mande uma mensagem no batidacrônica@substack.com para trocarmos uma ideia. E considere se inscrever, caso tenha curtido o que leu!
Obrigado por estar aqui, ler, se inscrever, ser tão gente fina e fazer o que quiser com o batida crônica. Até breve! :)
(E não, não estou atrasado. Talvez esteja, mas isso é só uma questão de perspectiva. Tudo o que foi escrito aqui é referente a junho de 2025. No final de julho teremos um post dedicado ao mês na frequência esperada. Vida que segue e vamo que vamo. Até o finzinho de julho!