017 | Um apanhado de música para dar tchau a maio de 2025
Este post contém inúmeros Little Monsters, dois bateristas demitidos e dez álbuns recém lançados.
Olá pessoas lindas e bonitas e bacanas! Espero que este post chegue até o seu email ou ao seu aplicativo da Substack e te receba bem.
Começo esse texto aqui com uma pequena reflexão que vem ruminando no meu cérebro há alguns dias. Vocês devem bem saber que a frequência dos posts aqui diminuiu após um exercício de reduzir para fazer melhor e fazer algo que me dê prazer de sempre continuar por aqui. Em alguma medida eu entendo que deu super certo - esse post aqui, do “apanhado de música” ao final de cada mês, está num formato que eu entendo ser funcional; para além disso tem sido divertido coletar as pautas conforme elas acontecem, jogar elas aqui em um rascunho e pensar que isso pode ser algo que te interesse e te faça relembrar algo curioso, divertido e/ou interessante. Quem sabe até ver algo pela primeira vez.
Só que esse mês de maio de 2025 foi atipicamente conturbado. Muito trabalho e muitas movimentações na minha vida pessoal. Estava dormindo pouco e me atropelando muito nas minhas tarefas diárias. Resultado: fiquei doente. Minha esposa também ficou doente na mesma época. Então precisei pisar fundo no freio para me recuperar plenamente e cuidar dela. Ficamos bem após alguns dias de antibiótico e olhando para trás eu vejo que ficar doente é sempre sinal que não estamos bem ou que, nesse caso, estamos nos negligenciando tanto que a doença - uma crise de sinusite - nos acomete como um sinal de “mano, vou ter que te derrubar aqui mas é pelo seu próprio bem”.
Nesse meio tempo eu perdi ritmo de muita coisa, incluindo minha rotina de escrita. E eu me senti culpado demais. Sempre sofri com autocobrança e no fluxo de todas as coisas me senti falho, pois eu devia estar escrevendo mesmo doente e mesmo com tanta coisa acontecendo. Olha que nóia! Aquela pressão de sempre estar fazendo alguma coisa e se você não faz você está sendo inútil, um reflexo do mundinho capitalista em que sobrevivemos, me pegou muito forte. Hoje, plenamente recuperado, vejo o quanto for importante ter parado tudo para me curar e poder cuidar de minha esposa. Fiz só o básico e isso foi muito dada toda a circunstância das coisas.
Nem preciso dizer que o mês vai terminar só com um texto, visto que estamos no finalzinho de maio de 2025 quando isso aqui chegar até a vocês. E não vou pedir desculpas. Porque não fiz nada de errado e recalcular a rota e reajustar é muito necessário para trazer um sopro de ar fresco nesse mundo maluco que a gente vive. Mês que vem eu retomo o fluxo normal das coisas. Então deixo aqui meu apelo: durma bem, se alimente direito, beba água direito, aceite as suas limitações, não faça coisas a mais do que deve fazer, aprenda a entender os sinais do seu corpo que você está em uma rotina intensa e precisa desacelerar. Tem dias que o seu máximo vai ser o seu mínimo, e tá tudo bem. Esse tipo de experiência é importante para reforçar internamente que fazer se cobrar não adianta nada. Ouso até dizer que fazer menos para fazer melhor é um treco quase que revolucionário. Isso sim é ser produtivo, não fazer trinta e cinco coisas ao mesmo tempo.
Enfim. Muito obrigado por estar aqui e por ser tão bacana. Vamos dar tchau para maio de 2025 e para as coisas que aconteceram no mundo da música?
Aleatoriedades aleatórias
Começamos esse segmento com talvez um dos maiores eventos do ano se tratando de música ao vivo: o evento, o culto, a aparição de Lady Gaga e seu show magnânimo e gratuito na praia de Copacabana no Rio de Janeiro. Os números oficiais da Prefeitura do Rio destacam que cerca de 2.1 milhões de pessoas estiveram ali para ver a Mother Monster, enquanto mais de 600 milhões de reais foram injetados na cidade por conta do turismo, das cervejas, dos hotéis e tudo que fez a roda da economia girar. Desde aquele célebre “Brazil, I’m Devastated” causado pelo cancelamento as vésperas do Rock in Rio 2017, ela estava devendo um show no Brasil. Eu não fui, acabei vendo de casa depois (inclusive clique aqui para [re]ver), e se do conforto da minha cama deu pra sentir que tudo ali foi lindamente extravagante e gigantesco como um show desse porte deve ser, imagina estar no meio da galera no meio de tanto êxtase, suor e lágrimas? A Gaga é e foi referência para uma geração inteira de jovens LGBTQIAP+, e enquanto o show da Madonna no ano passado em Copacabana foi um feito gigantesco por si só, sinto que esse vai ser um evento que vai ser lembrado por muuuuuito e muito tempo. Talvez uma das manifestações recentes mais contundentes de que a música ao vivo celebra e muda milhões de vidas todos os dias. Sinto que quem foi teve uma das maiores experiências possíveis e que todo o tempo de espera valeu muito a pena.

Se tratando de um show gigantesco como o da Gaga, você pode imaginar que a procura por qualquer buraco para se hospedar na capital fluminense deve ter sido alucinante. Números estimam um aumento de 150 vezes na procura de Airbnbs para o início de maio de 2025, quando o show aconteceu. E não sei se você tá ligado, mas além de quartos, apartamentos e casas para aluguel por curtos períodos ou temporadas, a Airbnb está investindo pesado em promover “experiências” na plataforma. Isso te permite a se inscrever a ser selecionado para fazer parte da “Otaku Hottie Experience” na casa da rapper norte americana Megan Thee Stallion. Para além de conhecê-la pessoalmente, os fãs felizardos vão poder brincar de “o chão é lava”, jogar Xbox, se vestir de cosplay e comer um lamen feito pela própria Megan. Pena que as inscrições estão encerradas.
O mês de maio reservou também momentos de estresse e surpresa para bateristas. Não qualquer baterista, mas dois deles em específico: primeiro Zak Starkey, filho de um tal Ringo Starr. Já ouviu falar? Tocou numa bandinha chamada The Beatles. Zak tocava há bons anos com o The Who, mas foi demitido agora que eles anunciaram a sua turnê de despedida dos palcos nos Estados Unidos e Canadá. O grande detalhe? Em abril Zak havia sido previamente demitido, mas reintegrado à banda poucos dias depois após “problemas de comunicação” que foram resolvidos nos bastidores. Só que agora em maio ele foi demitido de novo num post muito estranho feito no perfil do Instagram do guitarrista Pete Townshend. Quem vai ocupar o lugar é Scott Devours, que já acompanhava o vocalista Roger Daltrey em suas turnês solo recentes.
E o outro baterista que foi demitido de um jeito muito estranho foi Josh Freese, que hoje não toca mais com o Foo Fighters. Sim, o cara que já tocou com A Perfect Circle, Paramore, DEVO, Nine Inch Nails, Guns n’ Roses, The Replacements, The Vandals, Weezer e em muitas outras bandas foi demitido da banda que já teve sua cota recente de dramas. Talvez não esteja fresco na sua mente, mas te relembro: em 2022 a banda passou pela morte do célebre Taylor Hawkins enquanto estavam em turnê e Josh Freese entrou na banda dando-a um novo sopro de vida em uma nova fase. Teve vídeo de apresentação na banda e tudo. No meio tempo Dave Grohl, vocalista e guitarrista, recebeu o prêmio de pai do ano de 2024 quando anunciou uma filha fora do casamento. A banda cancelou shows e como se não precisasse de mais publicidade negativa, o próprio Josh comunicou que não faria mais parte do Foo Fighters. Quem será que fará parte da dança das cadeiras agora?
Mas vamos falar de coisas mais bacaninhas agora. A banda norte americana de hardcore Turnstile está se movimentando para promover o seu novo álbum, “NEVER ENOUGH", que vai sair bem no comecinho de junho. Eles estão fazendo alguns shows esporádicos e fizeram um show gratuito no Wyman Park no estado norte-americano de Baltimore para arrecadar fundos para instituições que apoiam as pessoas sem teto na região. E para promover o feito, eles gravaram todo o show e o divulgaram no Youtube. O lance é que toda a gravação parece um bootleg gravado em fita VHS, com áudio e vídeo em baixa qualidade. Ao mesmo tempo em que são uma das bandas mais quentes da atual cena do hardcore e futuros headliners de festivais, eles conseguem dar um aceno aos que vieram antes; emulando uma fita que o Fugazi teria gravado enquanto ainda estavam na ativa ali nos anos 80 e 90. Conectando o passado, o presente e o futuro, quem sabe? Só sei que a gravação é linda. Pessoas se batendo, dançando, pulando do palco, se empurrando nas rodas, crianças dançando, poucos celulares a vista. Eu queria morar nesse show.
Nesse meio tempo o Queens of the Stone Age, que também está se aquecendo para entrar em turnê depois do vocalista e guitarrista Josh Homme aparentar estar com a saúde em dia, anunciou uma gravação de um show inusitado: nas Catacumbas em Paris. Localizadas no subterrâneo da cidade, o ambiente é inusitado para uma banda de rock fazer um set, mas talvez eles sejam um dos mais apropriados para fazer isso, visto que sempre brincaram com o oculto e o sórdido ao longo de seus trabalhos. A apresentação foi gravada e será lançada como um filme e um álbum ao vivo. Caso você se interesse pode comprar ingressos para assistir online ao registro no site da banda. Ou se preferir, tem até a possibilidade de ver no cinema: se você é de São Paulo, não perde a oportunidade de ver o show no Cineclube Cortina! Maiores informações aqui. Se isso não foi aleatório o suficiente para você, ficou sabendo que o vocalista do Red Hot Chili Peppers lançou uma bebida de café no método cold brew a ser vendido em casas de show pelos Estados Unidos? A música Coffee Shop começa a fazer um pouco mais de sentido. E o pior de tudo é que eu beberia um treco desses.
Maio também foi mês da banda System of a Down na América do Sul, e os shows da banda no Brasil renderam registros fantásticos. Há vários registros das gigantescas rodas e sinalizadores nos estádios e também no autódromo de Interlagos. Mas o mais bonito foi o registro do show de Curitiba onde os fãs reproduziram as cores da bandeira da Armênia em determinado momento do set. Todos os integrantes do System of a Down são de famílias armênias, cuja história é marcada por conflitos significativos na região - vale a pena ler um pouquinho sobre a história do genocídio armênio. A banda ficou visivelmente grata e emocionada pela memória provocada e rolou até um registro no Instagram do baixista Shavo Odadijan.
E para finalizar, deixo o registro do Metallica tocando o seu clássico “Enter Sandman” em um estádio de futebol americano da Universidade Estadual de Virginia, nos Estados Unidos. O lance aqui foi que as 60.000 pessoas presentes pularam tanto que foi registrado um pequeno abalo sísmico de magnitude 1. Que loucura! A banda e a instituição de ensino já tem muitos anos de vínculo - desde os anos 2000 a música é o tema de entrada do time universitário de futebol americano. Para além de ser fantástico uma banda gigantesca como o Metallica fornecer tantos registros gratuitos das turnês recentes, é impressionante como todos os membros já na faixa dos 60 anos de idade ainda conseguem tocar em alto nível todas as noites.
Anúncios de shows, festivais e turnês
O
divulgou a primeira leva de atrações e a edição do ano promete estar quente: Mano Brown, BK convida Evinha, Marina Sena, Melly, Terno Rei, Wanderley Andrade, Célia Sampaio abrilhantam essa “leva” de atrações e mais gente virá aí. O evento é um dos principais festivais de pequeno-médio porte do país e um dos mais importantes da região Norte, sempre meio negligenciada em eventos culturais de altissimo impacto. Já sabe onde colar em dezembro, hein? Ingressos a partir de R$ 125 aqui.
O majestoso Gilberto Gil adicionou uma parada em sua derradeira turnê, Tempo Rei: um cruzeiro! Bem no comecinho de dezembro você vai ter a oportunidade de embarcar em um rolê marítimo com dois shows de Gil, além de shows de Liniker, Os Paralamas do Sucesso, Gilsons, Nando Reis, Elba Ramalho, João Gomes convida Mãeana e Jorge Vercillo. Se navegar nos mares com a companhia dessa galera te parece interessante, dê uma olhada no site do cruzeiro para checar se está dentro do seu orçamento.
O Austin City Limits é um dos festivais mais interessantes dos Estados Unidos, conseguindo trazer nomes grandes ao mesmo tempo que valorizam as bandas e artistas pequenos e médios, principalmente os texanos. Para esse ano eles conseguiram tirar o The Strokes da caverna, o que por si só é um feito muito impressionante. Além disso, trarão Hozier, Empire of the Sun, Doechii, Djo, Sabrina Carpenter, Cage the Elephant e outros headliners. Outros nomes de destaque são King Princess, Pierce the Veil, Japanese Breakfast, Car Seat Headrest, MARINA, Wet Leg, Ca7riel & Paco Amoroso, Teen Jesus and the Jean Teasers, Modest Mouse, Rilo Kiley e mais uma galera que você pode ler com calma no line-up abaixo. Se estiver na região na época e tiver uma grana sobrando, dê uma olhada no site do festival para conferir os ingressos.
Bad Bunny anunciou uma turnê mundial para promover o seu novo trabalho, “DeBÍ TiRAR MáS FOTos” e vamos ter dois shows no Brasil, mais especificamente em São Paulo! Duas coisas interessantissimas sobre essa turnê: primeiro que procura foi tamanha que a data original, 20 de fevereiro, esgotou em pouquissimo tempo e uma nova data já está disponível para comprar ingressos. Dá uma olhada na Ticketmaster, tem ingressos a partir de R$ 267,50 na meia entrada. E segundo que pela primeira vez eu vi uma dita turnê “mundial” não incluir os Estados Unidos. Tem shows na América Latina, Europa, Ásia e Oceania. Mas lá não. Lindo, não acha?
Jorja Smith vai fazer um show solo em São Paulo no Espaço Unimed no finalzinho do mês de outubro, pouco antes de se apresentar no Rock the Mountain no Rio de Janeiro em novembro. Os ingressos já estão a venda na Tickets for Fun e ainda tem entradas a partir de R$ 228 na meia entrada.
Os belarussos da Molchat Doma estão de volta ao Brasil para um show solo na Tokio Marine Hall em São Paulo em meados de novembro. Aquele rock triste e existencial que bombou no TikTok anos atrás ainda vinga e deve continuar conquistando os corações de quem curte um post-punk bem soturno. Ingressos restantes estão disponíveis na Eventim a partir de R$ 400.
A famosa (e hoje extinta) casa de música alternativa CBGB está promovendo um festival em setembro com a nata do punk em suas mais diferentes manifestações. Teremos Iggy Pop, Jack White, Sex Pistols (em sua versão 2025 com o vocalista Frank Carter), The Damned, CroMags, Johnny Marr, Lambrini Girls, Marky Ramone, The Linda Lindas, SoulGlo, Melvins, Scowl e muitas outras bandas. Salivou por aí assim como eu? Se te interessar e se estiver em Nova York, veja o site aqui e compre um ingressinho.
O Teenage Fanclub virá ao Brasil em setembro em um show praticamente esgotado no Cine Jóia em São Paulo, mas agora fãs terão uma outra oportunidade com um show da banda no Rio de Janeiro, dessa vez no Circo Voador! Os ingressos já estão rolando na Eventim a partir de R$ 200,00, incluindo a modalidade de ingresso solidário.
Álbuns descobertos:
Ebony - KM2
Começo essa relação com um dos álbuns que mais me surpreenderam. A minha esposa me apresentou a Ebony e desde então eu a escuto ocasionamente. A admiro muito pelo flow que eu considero muito único e porque o jeito que ela descreve cenas, ações, putarias, também é feito de uma forma que eu não vejo outras rappers da cena brasileira; meio que ela rima como se a vida dependesse disso, como ela joga na faixa “Vale do Silício”. Para além de ser um trabalho muito rápido (tem pouco mais de 25 minutos de duração), toda a produção do trabalho é fantástica. Os beats, os samples, as mudanças de tempo, cada elemento ali está no lugar certo e soa muito contemporâneo. E eu consigo ouvir tudo com muita clareza. Tem até uma participação do gigantesco Black Alien. Quer chancela maior para uma das maiores rappers que temos hoje? Trilha sonora perfeita para curtir com a galera enquanto você bola um cigarro. Não disse do quê.
Joaquim - Varanda dos Palpites
Joaquim. Nome simples, capa de álbum que remete a algo que seria feito nos anos 70-80 talvez, título do trabalho meio enigmático. Descobri este jovem músico graças a Coala Music, que hoje é referência para muito do que há de mais interessante e divertido da nova música brasileira, e caramba, que grata surpresa foi escutar “Varanda dos Palpites”. É um trabalho simples no sentido de que as músicas são, em sua grande maioria, compostas por voz, piano, bateria, baixo, ocasionalmente uma guitarra. Mas tudo muito bem amarrado em harmonias e melodias encantadoras que não são tão usuais na música presente no dia de hoje; e ainda conta com a participação Soa como grandes cancioneiros do Brasil e do mundo, de Guilherme Arantes a Billy Joel. Uma trilha sonora profundamente charmosa e que te abraça com intensidade, suavidade e sinceridade. Uma ótima trilha sonora para brincar com seu filho e ler histórias com ele, assim como eu o farei.
Rubel - Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?
Eu acho incrível quando um artista decide lançar um novo trabalho sem muito alarde, na maciota. Rubel decidiu anunciar “Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?” uma semana antes de seu lançamento, apenas pra deixar a expectativa no ar. E nesse último dia 28 fomos agraciados com seu novo trabalho de inéditas. Enquanto seu trabalho anterior foi para muitos lugares e trouxe influências indo do forró ao funk, agora voltamos para o formato voz e violão que mais remete ao que conhecíamos em “Pearl” e “Casas”. Ele continua sendo vulnerável, apaixonado, melancólico, com tesão, reflexivo, feliz; talvez mais do que nunca aqui. Uma das coisas que me impressiona é como transmitir tanto sentimento por meio de personagens em suas canções; canções estas que viram personagens na vida de tantas pessoas que o acompanham e fazem delas pilares de si próprias. São os 34 minutos mais intensos que você pode ouvir em maio. Trilha sonora digna de um por do sol no Arpoador com uma garrafa de cerveja já meio quente.
PJ Camargo - Alma Pura
Eu conheço o PJ há muitos anos, talvez desde 2007-2008 se minha memória não me falhar agora. Crescemos juntos na escola e desde então o vi crescer fisicamente e cronologicamente, da jornada do jovem ao jovem-adulto. Vi o PJ se tornar um daqueles meninos que não largam o violão para o melhor baixista que eu conheço e um cara que hoje vive inteiramente de música. Esse parágrafo pode parecer jabá - e talvez seja - mas não poderia deixar de falar de seu primeiro lançamento com suas composições próprias aqui. Apoie seus amigos e principalmente seus amigos que são musicistas. “Alma Pura” é delicado, tranquilo, um “crooner” em sua melhor forma ao som de um jazz muitissimo bem executado por ele e pela banda que o acompanha. Uma ótima trilha sonora para ler um livro numa quinta feira ao por do sol no sofá da sua casa.
Luedji Luna - Um Mar Pra Cada Um,
Uau. “Um Mar Pra Cada Um,” é definitivamente uma experiência. Luedji Luna pra mim é uma das maiores vozes brasileiras em nossa contemporaneidade, sempre saudando a sua espiritualidade e força de vida naquilo que canta e compõe. Já havia um tempo em que havia lançado um trabalho de estúdio (o “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água” de 2022) e embora ela já estivesse anunciando um novo projeto há algum tempo eu me peguei de surpresa quando do nada vi que suas novas músicas estavam entre nós. E como soa? Grandioso como nunca. Uma mulher que tem pleno domínio de sua capacidade vocal, de sua interepretação, de sua prosa e de seus sentimentos. É jazz, é soul, é pop, é lindo, é profundo. Li uma comparação com “A Love Supreme” do John Coltrane e esse trabalho e eu compreendo de onde vem: “Um Mar Pra Cada Um” é uma carta de amor a vida, a tudo que nos rege e orienta nossos caminhos. Trilha sonora para se ouvir num cochilo de tarde, com um bom fone de ouvido, no conforto da cama, de olhos fechados.
Andre 3000 - 7 piano sketches
Você talvez conheça André 3000 de uma das maiores duplas de rap de todos os tempos, OutKast. Por um tempo ele e Big Boi foram a referência do ápice do gênero. Quando o projeto se encerrou, ele deu um tempo da música para então voltar apenas em 2023 com dois álbuns onde toca uma flauta dupla, um instrumento único e feito a mão para ele. E agora André 3000 volta ao mundo da música com um pequeno álbum (ou seria um EP?) instrumental de piano, que como o nome sugere, são apenas pequenos rascunhos de melodias feitas no instrumento. Pode soar um pouco experimental, até etéreo demais, mas para mim soa mais como um manifesto de um artista que meio que já não se importa com tantas convenções musicais. Ele só quer tocar. Trilha sonora digna para se fazer um café na V60 e rascunhar coisas num caderno criativo só pelo impeto de criar.
Kali Uchis - Sincerely,
De volta com seu mais recente trabalho cantado em inglês, Kali Uchis trouxe ao mundo “Sincerely,” um álbum que parece ter sido feito para arrematar corações que já estão entregues à carreira da cantora colombiana. Quem já é velho de casa vai continuar se encantando com os timbres, as performances vocais meio etéreas, a instrumentação leve por trás, o sentimento de melancolia e paixão exalando por todas as faixas. Mas ao mesmo tempo o trabalho soa uniforme demais, meio que se você ouve as três primeiras faixas tem a impressão do restante do trabalho soar exatamente igual. Tanto que demorei para “engatar” no álbum e precisei ouvir ele mais de uma vez para ser convencido pelo charme único. Mas vale a pena a audição. Uma trilha sonora para se ouvir redigindo um email apaixonado direcionado a quem você ama numa terça feira de preguiça.
PinkPantheress - Fancy That
Ouvir PinkPantheress é como voltar a uma época em que a gente falava com nossos amigos no MSN quando chegávamos da escola, mandávamos scrap no Orkut, digitávamos SMS em celulares com flip e acessávamos a internet em computadores translúcidos com processadores Pentium 4 e depois a gente se desconectava por completo. Eram tempos mais simples. A cantora britânica de 24 anos consegue emular toda essa atmosfera em seu trabalho, um electropop frenético mas sem ser ruidosa, é precisa. Quase orgânica. É uma paleta muito colorida que conversa muito com a juventude e essa atmosfera Y2k que ronda muito as redes sociais hoje. Trilha sonora digna de uma festinha com seus amigos com catuaba e pizza onde seu amigo mandando um set montando playlist baixada do Youtube pra animar.
Car Seat Headrest - The Scholars
Você escutaria uma banda cujo nome traduzido pro português é literalmente encosto de banco de carro? Não sei de onde o norte americano Will Toledo tirou esse nome, mas o que vem ao caso é de que esse projeto é um dos mais interessantes e consistentes da música independente norte americana. Dos álbuns lançados no Bandcamp até os trabalhos lançados por meio da Matador Records (um dos selos independentes gringos mais descolados que temos), o Car Seat Headrest voltou com seu primeiro trabalho desde os tempos pandêmicos. “The Scholars” é uma ópera-rock, que dialoga com a mesma ambição de clássicos como “American Idiot” do Green Day e “Tommy” do The Who. Uma narrativa que dialoga com vários personagens, faixas com mais de dez minutos e muitos solos de guitarra, mudanças de tempo e camadas de instrumentos. É um trabalho que exige um pouco mais do ouvinte, mas que recompensa se você der o tempo e o devido esforço pra tal. Trilha sonora pra você jogar D&D com suas amizades acompanhado de Doritos e Pepsi Twist.
Animaro - Mei Seimones
Descobri o trabalho da Mei Semones graças aos algoritmos do Spotify, e é realmente muito gratificante quando ele funciona e nos consegue apresentar uma nova artista com um trabalho maneiro. A artista norte-americana é graduada em música, nascida e criada em Nova York, e traz em seu trabalho uma paleta de sons e influências que vão do indie até o jazz e a bossa nova. A influência de João Gilberto e Tom Jobim é gigantesca do início ao fim, e traz um som muito calminho, as vezes muito estranho também, mas que soa muito refrescante e relaxado. Percebe-se logo que ela é uma artista muito virtuosa, o dedilhado do violão é muito bem trabalhado, mas ainda assim não é aquela coisa distante ou que afasta um ouvinte com um ouvido menos treinado ou habituado a esse tipo de som. Trilha sonora pra você ir na feira no sábado pela manhã e comprar os legumes, hortaliças e frutas para a próxima semana.
Ufa! Chegamos ao fim de mais um post. Espero que a leitura tenha sido interessante e que tenha possibilitado você ampliar os seus horizontes musicais ou ficar sabendo de algum show que você tenha interesse de ir no futuro. Percebeu algum álbum que ficou de fora? Curtiu alguma indicação em específico? Quem você acha que será o novo baterista do Foo Fighters? Você foi ao show da Lady Gaga em Copacabana ou a algum dos shows do System of a Down? Comente aí que vou ter o maior prazer em ler e te responder. Se quiser falar comigo diretamente o email batidacronica@substack.com está a sua disposição também. Como sempre também deixo a playlist do Spotify com algumas recomendações de músicas bacanas que foram lançadas nesse ano.
Por fim, caso você ainda não seja inscrito no batida crônica, considere se inscrever e receber futuros posts como esse diretamente na sua caixa de entrada ou no aplicativo do Substack. Só clicar no botãozinho, não tem mistério.
Obrigado por estar aqui e faça o que quiser com o batida crônica. Até o próximo post! :)